Cartão de Fidelidade e Engano Logístico



Estabelecida como objetivo a ser atingido pelo método de Marketing, a fidelidade, é vista como espécie de iguaria mercadológica nestes tempos de escassez de consumidor e excessos de oferta. É um diferencial que, quando obtido, traz profunda alegria no gestor de marketing. Ao homem de mercado a conquista do consumidor fiel é uma espécie de “eldorado”.
Uma das ferramentas mais efetivas e que atua de modo simbólico, mas que deve agregar efetivas vantagens utilitárias, são os chamados ‘cartões de fidelidade’. Neste caso, me permitam avaliar vivência particular, entretanto, dentro dos preceitos de um estudo de caso. 
Deste modo, o consumidor em questão serei eu mesmo, de modo que este terá o perfil seletivo, com gosto por oportunidades e opções de escolha, adepto do custo/benefício, porém fiel ao encontrar estas condições ofertadas. Isto posto, acabou por produzir um relacionamento comercial de mais de 15 anos com certo magazine com atuação em Shoppings e recentemente no setor de compra virtual.
Reconheço a fidelidade, dado que ao chegar num Shopping acabo sempre procurando pela “marca” que, de modo geral, sempre atendia às minhas necessidades como consumidor. Pois bem, na última Páscoa, seguindo um de meus rituais de compra, me desloquei da cidade onde moro uns 45 km e fui à vizinha e bela Poços de Caldas, Ovos de chocolate para família, menos para mim em abstinência calórica, mas mantendo o calor afetivo.
Compras feitas, ovos de Páscoa escolhidos, marca A para o pai, marca B para mãe, marca C para sogra, enfim, a cada um o seu devido chocolate, frente ao caixa, e com o cartão de crédito na mão, ao passar o plástico, para minha surpresa, (e até mesmo do caixa), a autoridade do programa de computador recusou o parcelamento de sempre. Será que é o Visa? Tentemos o Mastercard. Nada. E então a notícia esclarecedora: a Loja agora só faz a venda da forma que fazia se for usado o recém-criado cartão da Loja.
A primeira reação foi olhar o cartaz que com letras garrafais que anunciava a venda em 10 parcelas. Então descobri que em letras bem mais miúdas estava escrito que as parcelas seriam em só quatro. E na explicação das opções percebi que esta foi a gentil abordagem que fizeram para me ofertar o cartão da minha, até então, Loja preferida. 
Realmente irritado, nem tanto pelo valor, mas pelo que considerei uma falta de respeito, coisa completamente fora de moda mesmo, tomei a medida que achei mais correta e dispensei a compra. Fiz meu papel de consumidor-cidadão, mas estraguei meu raro dia com a família.
Problema: os ovos continuavam para ser comprados. Já bem mais calmo, como é comum do temperamento dos descendentes da velha bota do mediterrâneo, (irritado sim, mas acessível e franco também, afinal, um relacionamento de tantos anos não se desfaz assim), nova viagem, agora Campinas, uns 120km. Costume é costume. E lá estou eu novamente numa unidade da tal Loja, já de cabeça fresca, agora sabendo o negócio que iria fazer e conformado em ter sido vítima de segregação comercial. Novas compras, e lá estou eu no caixa novamente para pagar segundo a nova regra. E então veio a oferta: “O senhor tem o cartão da Loja?” Bem, agora já sentia um bafejar de civilização, afinal se perguntava se eu queria, ao invés de me informar que eu tinha passado a ser cliente de segunda, em que pesasse minha fidelidade. “O senhor quer um?” 
Realmente estou ficando velho, hoje se oferecem as coisas, antes a gente conquistava. Mas, enfim, sou adepto da tentativa de se atualizar. Já tinha esperado na fila que um alto-falante informava que eu não teria que enfrentar se tivesse o tal cartão...
“Fica!”, “Não quero”, “Fica!”, “Já esperei na fila!”, “Não vai demorar”... tanta insistência, que enfim resolvi me adaptar aos tempos modernos. A não demora demorou um pouco. Fui para um setor de cadastro. Incrível, mas depois de tantas compras, inclusive com cartão via internet, e por tanto tempo, ao invés de haver uma pesquisa com meus dados, lá estava eu fazendo um cadastro. Mas tudo bem, eu estava de bom humor.
Antes, porém, de fazer questionei: “Você está dizendo que não tem custo?” e veio a confirmação “Sem custo. O senhor não quer o seguro? É tanto...”. Previdente, acabei aceitando este custo. Assinei papeis, e então veio a fila que não tinha, pequena é certa, mas lá estava ela, mas eu estava de bom humor.
Sacola na mão, algum tempo a mais... coisa de uma hora e meia... é que não ia demorar... Mas eu estava de bom humor. Quase feliz, resolvi esquecer o assunto, consulta e remédios andam caros, melhor reduzir o stress.
Ocorre que minha fiel fornecedora acabou por lembrar de mim, semanas depois, e recebo um telefonema em casa: “O senhor é difícil de encontrar!”. Eu, irritado: “Por que lhe devo satisfações de meus horários?”, e então: “É do cadastro da Loja, o senhor esqueceu de assinar...”, e antes que terminasse: “Não esqueci de assinar coisa alguma, fiz tudo o que me pediu, inclusive aguardei uma boa porção de minutos para ter meu crédito aprovado.”. ”Bem, é que me esqueci de uma assinatura... o senhor poderia vir a Campinas para assinar?”. Indignado: “Como? Você quer que eu me desloque 120km para assinar algo que esqueceu de me dar para assinar? Mande por sedex, por favor, que assino e lhe devolvo”, e veio a pérola: “É contra as regras da Loja.”, e mais indignado: “ E eu ser importunado ou não, consta nas regras da Loja? Irei a Campinas quando achar que devo ir; e sei que devo, portanto, mande as faturas conforme estabelecido que vou pagar”, e novamente, “Mas as regras da Loja...” E então: “Também tenho as minhas regras. Assim, arrume-se com as regras da Loja e depois me informe”.
Não veio informação, mas chegou a fatura do tal cartão. Confesso-me novamente satisfeito, imaginei ter chegado à solução, mas foi só abrir o envelope para observar o item ‘anuidade’. Irritado novamente, liguei ao 0800, e informei que o cartão me foi ofertado, não só a mim como a quem estava na Loja naquele dia, “sem custo adicional” (vai saber o que significa isto...), e até tinha feito o seguro. E a mocinha do outro lado: “Tem custo, sim”, e eu: “Não aceito.”. Então: “Teremos que cancelar...”, e eu: “E como farei para pagar?”, “Isto não tem problema, vão as faturas.”, e decepcionado, me sentindo enganado: “Então cancele”.
E finalmente chegamos ao fim. 
Ainda em Poços, como consumidor procurei o gerente e argumentei minha insatisfação, o chamado feed back. O cidadão parecia ter noção de marketing, até concordou comigo. Aliás, diga-se de passagem, em que pese a desagradável passagem, todos os funcionários, embora incapazes para resolver o essencial, eram sempre muito solícitos e sorridentes. Devem ter absorvido apenas parte do treinamento, ou talvez não tenham tido o treinamento adequado. 
Onde vou chegar? É simples: para se atingir um objetivo não basta uma prancheta, é preciso verificar a concretização dos resultados. Antes de buscar fidelidade talvez fosse mais barato pesquisar os seus próprios consumidores, ao invés de produzir um tosco esforço de vendas, empurrando um cartão ao consumidor. No mais, se quer fidelidade tem que dar vantagens adicionais, e não tirar as vantagens já existentes, como que punindo o consumidor por não ter o tal cartão de fidelidade. Eis aí uma logística desastrada, que empurra consumidores fiéis para o concorrente, de modo que: “Adeus, ingrata. Tchau, Loja infiel!”
Doeu, mas vai passar. 


10 de maio de 2009


Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Economista pela UNICAMP, pós-graduado em Economia de Empresas na UNIFAE, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO.

Fatores Determinantes do Desemprego Crescente


Em Teoria Econômica, mais especificamente no campo da análise macroeconômica, ao fazer das flutuações da produção objeto de estudo, adota-se como variável determinante a demanda total (ou procura total), ou seja, é efetivamente o gasto nas economias que faz com que exista produção, e a esta fica associado o emprego do capital e do trabalho. Neste sentido a redução da demanda implica a redução do capital e do trabalho, ocasionando simultaneamente capacidade ociosa indesejada e desemprego do fator trabalho. Por seu lado, a demanda é fomentada pela renda da economia, onde os agentes econômicos podem usar apenas aquela que é sua, mas também recuar terceiros, ou seja, se utilizar do crédito para assim efetivar seu gasto. Neste sentido, alterações na renda ou no crédito produzem alterações na demanda. 
No que tange a percepção de renda própria, esta remunera o capital e o trabalho. Assim, temos remunerando o primeiro: a taxa de lucro, a taxa de juros e os alugueis, enquanto no segundo, os salários e os pró-labores. O esfriamento da demanda implica a queda da produção que desemprega parte dos fatores capital e trabalho, que por conta disto tem sua renda total reduzida, levando em momento seguinte à redução da demanda global. O desemprego, por seu lado, reduz as expectativas de renda futura atuando sobre a redução da oferta de crédito, novamente afetando a demanda em sentido negativo. Por vezes árida, a teoria se faz necessária para explicar o fenômeno em questão. E o que aqui está exposto mostra, de modo ideal, o que ocorreu a partir da crise das hipotecas norte-americanas, que como rastilho de pólvora alterou as condições do crédito no mundo globalizado. Isso além de implicar a redução do emprego no seguimento imobiliário dos EUA que atuará como indutor de demanda daquele país, que contaminou com sua crise a economia como um todo, levando a locomotiva mundial a adotar um ritmo mais lento que afetou o mundo globalizado.
A redução da demanda mundial não justifica a produção que assim desemprega tanto o fator capital e como o trabalho, sendo que deste último a mídia é abastecida com más notícias que deixam as expectativas ainda mais negativas, o que acaba por contribuir para um aprofundamento da crise. São vários os setores que anunciam demissões, em quantidades que causam arrepios, mas apenas para ficar nos setores automobilístico e eletrônico das duas principais economias mundiais, para sentir a intensidade do drama, nos EUA a General Motors busca já com certo desespero crédito público, e mesmo assim planeja demitir 47000 colaboradores em torno do mundo; a Ford pensa em relação a 8000, e Chrysler em torno de 30000. Já no Japão, segunda maior economia do mundo, empresas como Honda, maior produtora de carros japoneses, Toyota,Yamara, Nissan, NEC, Hitachi, Panasonic e Pionner, pretendem demitir em torno do globo respectivamente: 3100 funcionários, 23500, acima de 1000, 20000, 20000, 7000, 25000 fechando 27 unidades pelo mundo, e por fim fechará 10 fábricas dispensando 10000 dos seus quadros.
Sem dúvida, são duros ajustes que demonstram que as empresas não passam por mera bolha de recessão, mas sim um período recessivo que talvez leve alguns meses para se reposicionar a partir dos vários programas de recuperação econômica para o mundo. Há que se esperar para ver.


27 de fevereiro de 2009


Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE,  Economista pela UNICAMP, pós-graduado em Economia de Empresas pela UNIFAE, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO.

A Tendência à Defasagem das Aposentadorias acima de um Salário Mínimo



Hoje, ao tratar da questão da aposentadoria paga pela Previdência Social Pública, a população em geral tem que dividi-la em duas: o grupo dos que se aposentaram com o salário mínimo e o outro composto por aqueles que o fizeram em uma maior quantidade de salários. No que tange o primeiro grupo, predominante a maioria, há que se reconhecer o atual esforço de recuperação do salário mínimo, que implica definir reajuste no mesmo acima da inflação, portanto, acréscimo real de salário. Eis que a política descobriu a grande massa de trabalhadores brasileiros que vivem com o salário mínimo, assim como parcela predominante dos aposentados, o eleitorado em potencial a ser cativado. Entretanto, melhor assim, é a força eleitoral se impondo em prol da sociedade.

O mesmo, porém, não ocorre com o grupo de aposentados que percebem acima de um único salário. Aqui a primeira coisa a se dizer é que isto ocorre porque seus componentes, quando na ativa, recolheram maiores montantes aos cofres da Previdência. Para estes, embora o governo se proponha a repor a inflação, não traz o benefício do ganho real do salário mínimo, o que significa dizer que ao longo do tempo a quantidade de salários com que tal indivíduo se aposentou será cada vez menor tendendo a tornar-se um único salário.
Para não irmos longe citemos os dados inerentes ao que vem ocorrendo nesse sentido desde a posse do governo Lula, quando o salário mínimo era de 200R$. Neste caso admitamos que no mesmo momento um cidadão se aposentou com o montante de 600R$, portanto, três salários mínimos. O que se viu depois foi que o mínimo subiu 132%, enquanto que as aposentadorias acima do mínimo foram reajustas em 60%. O resultado é que o mínimo atingiu 465, enquanto que o suposto beneficio de R$600 passou para R$ 938,47, ou seja, em números de salários o beneficiário em questão passou a receber 2,16 salários mínimos, o que confirma a tese aqui proposta de que aqueles que se aposentaram acima do mínimo tendem a ter seus benefícios reduzidos a um salário. Não se trata de uma questão ocasional, mas estrutural; da forma que vem ocorrendo este será o resultado.
Agora pergunto: alguém que ganhava três salários tinha o mesmo padrão de vida de quem ganhava um? Sendo objetivo do governo valorizar quem percebe o salário, não é o caso de fazê-lo com aqueles que pagaram ao longo da vida por benefício diferenciado? Qual seria a razão desta generosidade pública parcial? Talvez seja porque o grupo aí representado seja bem menor, e como tal sua densidade eleitoral não seja a mesma. No mais, que pode o aposentado fazer? Greve? 
O que acaba acontecendo é sua queda de padrão de vida, o que se poderia levar a pensar que o sujeito vivia muito bem, mas é ledo engano, conforme a idade avança a saúde tende a ficar mais vulnerável. E desde jovem o cidadão brasileiro sabe que se quer ter algum tipo de atendimento decente deve pagar um plano de saúde, porém estes por essa época da vida começam a subir acima da inflação, com acréscimos reais conhecidos pela tal “mudança de faixa”. Assim, justamente quando precisa, e quando está mais vulnerável economicamente, o cidadão passa a ter dificuldades de manter seu plano de saúde. Neste caso passa a ser uma espécie de entulho comercial, afinal se esquece todo o lucro que deu no passado para pensar que no curto prazo pode dar prejuízo, eis aí uma boa razão para se dar ganho real para todos os aposentados, suas despesas neste caso sofre ganho real. Talvez um dia algum burocrata descubra, se é que já não sabe, que o cidadão pagou pelo plano quando tinha saúde, mas que vai obrigatoriamente sobrar para o sistema público quando estiver velho e doente. 
E para não sairmos da questão da saúde, citemos o preço dos remédios, os melhores fregueses das farmácias são os mais velhos, certamente não consomem remédio por conta do seu sabor especial, mas por necessidade. Quanto a isto também se sabe que a indústria farmacêutica é do tipo oligopólio, o que implica dizer que consegue impor seus preços, ou seja, basta verificar que eles também sobem acima da inflação, e nisto haveria mais uma razão para o governo compensar os aposentados. Dar-lhes a inflação significa não lhes repor a renda se considerarmos apenas estas duas despesas citadas. Eis, portanto, uns poucos argumentos para defender que a quantidade de salários seja mantida. Não vamos citar aqui a remuneração e aposentadoria da classe política, pois levaria o caso para o campo da crueldade.
O fato é que o aposentado não dá o braço a torcer, e este pessoal acaba indo à luta para complementar a renda, e passa a ocupar vagas de trabalhos que não serão preenchidas por jovens que, sem emprego e marginalizados, acabam descobrindo outras formas de renda menos ortodoxas como o tráfico de drogas e a prostituição. Dramático, não? Mas este é o nosso Brasil, que não sabe proteger seus jovens e seus velhos. E o mais interessante é que jovem, ou ainda seremos ou já fomos, e idoso, quem conseguir avançar nos anos virá a ser, de modo que como sociedade e governo haveremos de ser algozes e vítimas de nós mesmos.

27 de fevereiro de 2009.

Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Economista pela UNICAMP, pós-graduado em Economia de Empresas  na UNIFAE, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO. 

A variação dos preços dos combustíveis




Quando se fala nas flutuações do preço do etanol, há que se destacar a volatilidade do mesmo, o que ocorre justamente por conta de se tratar de recurso renovável dependente de safra e, neste sentido, da sazonalidade anual, já que os estoques existentes são insuficientes para manter o preço no momento de entre-safra ante a diminuição da oferta. Em sentido inverso, no momento da safra a entrada do produto se faz abundante e determina queda, o que ocorre normalmente no período de um mesmo ano. É algo diferente da gasolina e do diesel cujos estoques se associam a jazidas já existentes, e dependem antes da vontade dos produtores quanto à quantidade a ser produzida, segundo estratégia de preços liderada pela OPEP, é recurso esgotável, porém, a partir das reservas existentes passível de maior planejamento do preço. No caso do etanol, algo vem alterando os fundamentos do programa do álcool é a produção de carro flex, o que faz com que a nova frota não seja composta por veículos movidos a este ou aquele combustível, mas com a dupla capacidade de consumo, o que permite optar pelo uso de um ou outro, o que potencia o uso do álcool toda vez que ele compense com o preço o seu menor poder calórico frente à gasolina, o que na prática significa ele custar a partir (ou abaixo) de 70% da gasolina. Ora, isto cria um problema adicional, à medida que a produção de veículos flex for superior ao aumento da produção de álcool, isto porque associado aos 25% do mesmo acrescido a gasolina, se passa a ter um maior potencial de consumo do mesmo que acaba por pressionar o preço ante a oferta do combustível que não acompanha o crescimento da frota. Isto posto, o problema, deixa de ficar restrito à questão da sazonalidade, mas ligado a um planejamento de maior investimento na produção, já que o carro flex garante agora a existência do mercado, coisa que não ocorria antes quando os motores usavam ou outro combustível, que implicava a troca de uma motorização por outra e mudava a demanda. Agora a mudança é bem mais simples, trata-se de mera escolha frente à bomba de combustíveis do posto de gasolina, esta aliás é a tese de Sergio Prado, representante da ÚNICA (União da Indústria de Cana-de-Açucar) de Ribeirão Preto, que afirma haver descompasso entre a oferta do setor sucroalcooleiro e a oferta de carros flex no mercado. Seja lá como for a tendência no momento é de pensar em queda de preços dos combustíveis, não só do etanol, mas também da gasolina, nisto existe uma efetiva pressão da área monetária do governo que identifica as altas no setor como um dos principais focos a alimentar a recente a inflação. É o que afirma Edison Lobão, Ministro das Minas e Energia, afinal 25% da gasolina brasileira é composta de etanol, de modo que a queda do mesmo deve reduzir o preço, da mesma forma que elevou quando este subiu, algo de 8 a 10% no preço final da gasolina. Que os bons ventos da safra levem para longe parte da agonia dos nossos bolsos.

01 de julho de 2011

Gilberto Brandão Marcon

Professor da UNIFAE, centro universitário em São João da Boa Vista-SP. Ex-Presidente do IPEFAE (2007/2009). Economista pela UNICAMP, pós-graduado em Economia de Empresas UNIFAE, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO. Doutorando em Educação pela UNIMEP Comentarista Econômico da TV UNIÂO. por quatro anos. Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista-SP, Cadeira nº06, Patrono Mario Quintana.

O ranking das doenças no Brasil




Recente pesquisa que produziu dados citados em estudos sobre o Brasil, foi publicada em 09/05/2011 no periódico médico "Lancet" no que tange as consequências das mudanças recentes de hábitos em torno da saúde dos brasileiros, que ficaram em média mais velhos e que se aprofundaram no modo de vida urbano, o que implicou diretamente o aumento do problema da obesidade. Se até bem pouco tempo lideravam as doenças cardiovasculares, no encurtamento ou redução da qualidade de vida dos citados a pesquisa atual mostra que assumiu a ponta os transtornos psiquiátricos, a estes relacionados dois aspectos: a depressão e o alcoolismo. Sendo mais específico, o cálculo atual indica que os problemas psiquiátricos foram responsáveis por 19% dos anos perdidos, para estes contribuindo diretamente a depressão, psicoses e a dependência de álcool. A situação fica mais crítica à medida que dados adicionais demonstram que 18% a 30% dos brasileiros já apresentaram sintomas de depressão. Outras doenças que atualmente se apresentam como emergentes são: diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer, como o de mama. Estas estão associadas a mudanças no padrão alimentar, onde se destaca o aumento do consumo de produtos ricos em sódio. Seguem neste ranking pouco estimulante as doenças cardiovasculares, responsáveis por 13% dos anos perdidos e em sequência as doenças respiratórias, os cânceres, as doenças musculoesqueléticas e depois o diabetes. A boa notícia é que houve redução relativa das doenças respiratórias, o que é explicado pela redução do número de fumantes. Mas se um hábito ruim se reduz, lamentavelmente um outro vem se expandindo, trata-se da dependência de álcool, que neste caso parece fazer parte de mudanças no estilo de vida do brasileiro, já que pesquisas recentes do Ministério da Saúde denunciam um aumento abusivo no consumo de bebidas, o que por seu lado, como já foi dito, contribui para o aumento da depressão. É claro que neste caso há que se pesarem os aspectos da dependência química, mas também é bom lembrar que o combate ao habito de fumar é bem mais intenso que o de bebidas alcoólicas. A hipótese de um estar atuando como substitutivo do outro, em certa proporção, não pode ser descartada. A solução para enfrentar essa nova hierarquia de desafios, em relação às doenças psiquiátricas, segundo o atual Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, seria a de expandir os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e aumentar o número de leitos para internações de curto prazo. A população torce por isto, pois o fato é que a prestação de serviço público de saúde vem se caracterizando por coisas tais, como a dificuldade em ser atendido e a fila para resolver o problema. Pena que a doença por vezes não saiba ter paciência.

Gilberto Brandão Marcon

Professor da UNIFAE, centro universitário em São João da Boa Vista-SP. Ex-Presidente do IPEFAE (2007/2009). Economista pela UNICAMP, pós-graduado em Economia de Empresas UNIFAE, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO. Doutorando em Educação pela UNIMEP Comentarista Econômico da TV UNIÂO. Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista-SP, Cadeira nº06, Patrono Mario Quintana.

29 de junho de 2011

O investimento externo direto no Brasil em 2010




Em macroeconomia se ensina que o gasto nobre é o investimento, pois decorre dele o aumento da capacidade produtiva da economia, além de atuar como multiplicador da renda e ser o principal responsável pela flutuação do emprego. O ponto de partida necessário para o investimento é a poupança, e neste sentido, no que tange ao Brasil, a poupança interna tem sido insuficiente, comprometendo o investimento privado. De outro lado o investimento público se faz urgente, o setor público até tem planejado e falado muito do assunto, mas falta que estes saiam do projeto para o plano concreto. Uma informação tendo por origem a CEPAL causa surpresa aos menos otimistas. Trata-se do crescimento do investimento externo direto (IED) no Brasil, ou seja, o aumento de recursos que entram no país provenientes de outros países objetivando instalar aqui estruturas produtivas. São recursos que passam a ter endereço no país e contribuir com o crescimento do mesmo, e isto ganha maior importância ao considerar-se que o IED nos países desenvolvidos em geral foi negativo em -7%, em tendência inversa dos países em desenvolvimento, com acréscimo de 10%. É claro que no futuro estes investimentos externos implicarão nas remessas de lucros futuros, entretanto, até lá, e mesmo depois o pais continuará se beneficiando. No caso do Brasil o que houve foi um crescimento de 87% dos recursos entre do ano de 2009 para o ano de 2010. Considerada toda a América Latina, o Brasil liderou o ranking de recepção de tais recursos mostrado-se como principal pólo de atração da região.. Foram 48,40 bilhões de dólares (ou R$ 76,90 bilhões). Em segundo lugar veio o México com US$ 17,7 bilhões; é pouco, mais de 1/3 do recebido pelo Brasil. Em terceiro o Chile com US$15,10, em quarto o Peru com US$ 7,3 bilhões, em quinto a Colômbia com US$ 6,8 bilhões e em sexto, surpreendendo negativamente, a Argentina com US$ 6,2 bilhões. Em sentido inverso Brasil e México mostrando a força das suas economias foram os que mais investiram em outros países, neste caso os mexicanos que lideram com US$12,70 bilhões, secundado de perto pelo Brasil com US$ 11,50 bilhões, o que mostra que as empresas transnacionais destes países estão vigorosas. Dos que investiram na região liderou o EUA com 17% dos IED recebidos em 2010, seguido pelos Países Baixos com 13% do total e em terceiro a China com 9%, porém com uma clara tendência de ascensão. Por fim seguem Canadá e Espanha com 4% cada. O indicador mostra confiança internacional no Brasil, e por conta disto é que se faz cada vez mais necessário ajustar o país para manter as expectativas favoráveis, no sentido de que tal fluxo de recursos efetivamente necessários e bem-vindos continue contribuindo para o desenvolvimento do país.

08 de julho de 2011

Gilberto Brandão Marcon
Professor da UNIFAE, centro universitário em São João da Boa Vista-SP. Ex-Presidente do IPEFAE (2007/2009). Economista pela UNICAMP, pós-graduado em Economia de Empresas UNIFAE, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO. Doutorando em Educação pela UNIMEP Comentarista Econômico da TV UNIÂO. Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista-SP, Cadeira nº06, Patrono Mario Quintana.

O Custo Benefício Copa do Mundo de 2014



Toda vez que vai se fazer um gasto público, se está fazendo uma opção, que não é apenas econômica, mas política também, pois são tantas as demandas a serem cumpridas, que por vezes fazer uma opção implica abrir mão de outra. Neste sentido os gastos do Estado relativo à Copa do Mundo podem ser comparados sob esta óptica, Para tanto, há que se buscar uma padronização, ou uma relação adequada.

Neste caso é possível se comparar o custo de construção e reforma dos estádios com o de construção de moradias para a população. É claro que o gasto em estádios não pode ser visto apenas em seu valor, pois implicará efeitos multiplicadores, assim como também deve ficar claro que um bem estabelecido programa de habitação também produz tais efeitos, mas o caso aqui é comparar os gastos em si.

Neste sentido, há que se lembrar que recentemente o país foi palco de tragédias naturais ligadas às chuvas que levaram à destruição de grandes áreas. Apenas para exemplificar, o caso do estado de Pernambuco, onde foram perdidas 14.316 casas, cujos custos de reconstrução foram calculados em torno de 30 mil reais por moradia. Pois bem, o citado estado de federação atualmente provisiona verba estadual e terá empréstimo de recursos do governo federal para construir a Arena Capibaribe, cujo total será de 464 milhões.

Ora, basta fazer uma conta de divisão para se concluir que com tal recurso seria possível a construção de 15 mil casas, ou seja, recuperaria as destruídas e ainda construiria quase um milhar a mais. O Jornal Folha de São Paulo, trabalhando em torno destes números foi além e fez uma interessante comparação. Tomou por base os orçamentos de oito estados (Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará e Rio Grande do Norte), que acrescidos pelo distrito federal deverão investir 4,831 bilhões de reais em seus estádios visando a Copa de 2014. Esse dinheiro representa oito vezes o que os nove governos gastaram com habitação em 2009, algo em torno de R$ 589 milhões, o que significa que se mantido este nível de investimento nos próximos cinco anos, incluindo 2010, se teria a verba para habitação para os próximos cinco anos.

Outro comparativo dos recursos em questão poderia ser feito em relação ao investimento feito em saneamento básico. Neste caso, o valor foi de R$ 1,269 bilhão em 2009, portanto, o valor gasto com os estádios equivalem em torno do gasto de quatro anos do país em infraestrutura. Ou seja, mantida a média, e faltando quatro anos para Copa, este seria o valor gasto em saneamento básico até lá. Por fim, um terceiro comparativo, agora utilizando-se do investimento em gestão ambiental do citado grupo da federação em 2009. Trata-se de R$ 1,170 bilhão, ou seja, o valor a ser gasto com a futura copa em estádios se equipara a quatro vezes, o valor gasto em um ano neste segmento. Hoje existe uma carência de 5,8 milhões de habitações no Brasil, quanto ao saneamento básico, um quarto das famílias brasileiras ainda não têm acesso ao mesmo, no que tange a questão ambiental, estudo da Academia Nacional de Ciência dos EUA aponta o Brasil como líder em desmatamento na primeira metade da primeira década do século XXI.

O montante gasto com a Copa não resolveria o problema, mas ainda assim, é mais do que está sendo investido, o que se faz questionar quanto a prioridades e hierarquia dos gastos do governo. Muito se fala em investimento privado, mas não se esclarece que serão com recursos buscados junto ao BNDES, (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) onde o dinheiro para obras de estádios terão status especial, sem por exemplo, enfrentar fila. Ah, sim, alguém pode perguntar como vai à solução dos desabrigados de Pernambuco, sobre as tais 14.136 moradias ficaram em falta. A este respeito, até 05/09/2010, 66 casas foram entregues aos desabrigados, enquanto os outros desalojados esperam e recebem R$ 150 por mês para pagar aluguel. Este é o Brasil real da Copa de 2014.


Gilberto Brandão Marcon


28 de outubro de 2010


Professor da UNIFAE, centro universitário em São João da Boa Vista-SP. Ex-Presidente do IPEFAE (2007/2009), instituto que promove estágios, pesquisas e concursos. Formado Economista pela UNICAMP, pós-graduado em Economia de Empresas UNIFAE, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO, tenho atividades complementares Comentário Econômico em TV local.