Bolsa de Valores: A Fuga de Capitais da Bovespa
A atual crise na economia mundial tomou fôlego no último trimestre do ano de 2008, tendo por foco gerador a crise do mercado de financiamento imobiliário vinculado ao crédito “sub-prime” (de segunda linha) norte-americano, que se alastrou para o mercado imobiliário, impulsionando um conjunto de eventos que culminaram no início de um processo recessivo em dezembro de 2007 no EUA.
Como que doença provocada por vírus de alto potencial de infecção ao longo de 2008 foi se espalhando pelo mundo nos três primeiros semestres deste ano, mas efetivamente apresentando os seus sintomas no trimestre final.
Inimigos de nascimento, o mercado financeiro se viu frente a frente com o sintoma da aversão ao risco, que de modo sintético nada mais é do que o temor daqueles que têm recursos disponíveis em aplicá-los, o que significa, na outra ponta da relação, emprestar tais recursos. Este temor vai desde uma corrida dentro do próprio mercado financeiro em busca das aplicações mais seguras, porém menos rentáveis, até a sua fase mais crítica, quando a aversão passa a ser quanto ao próprio mercado financeiro e se passa a buscar alternativas de lastro físico, como o ouro e os imóveis.
No caso da Bolsa de Valores, criada como meio das empresas buscarem financiamento pela via da expansão do seu quadro societário, pulverizado por meio das denominadas ações, cujo fundamento seria a retribuição em dividendos, nome dado ao lucro distribuído pela empresa aos portadores das ações. A princípio ligada à funcionalidade da instituição, acabou por ganhar vida própria, como papeis no mercado financeiro, perdendo parte dos seus parâmetros racionais de avaliação em prol do jogo de expectativas que alimenta a especulação do jogo de oferta e demanda do mercado, de modo a associarem o risco da atividade operacional àquele inerente à área financeira, tornando-se ativo de alto risco, estrela de primeira ordem nos ciclos expansivos da economia, porém espécie de megera indesejada nos momentos de retração.
É assim que uma das principais repercussões da crise financeira ao longo do globo planetário trata-se justamente das flutuações com viés de preço baixista que atuam como que o inseto cupim na madeira, a corroer os índices indicadores de rentabilidade das várias bolsas de valores incrustadas na geografia cosmopolita do mundo globalizado, onde as expectativas e ansiedades ligadas à internet alimentam as 24 horas de cada dia, criando uma espécie de história instantânea, com os eventos suplantando a intencionalidade dos seus atores humanos.
Na prática, temos algo como uma feira mundial de ações, onde pequenos e grandes, compradores e vendedores, confrontam-se objetivando o ganho de curto prazo. Ora, focando a análise no país emergente como o caso do Brasil, considerado de maior risco, acusado o prejuízo no seu mercado de papeis, alastra-se a concepção de risco, o que acaba por definir uma fuga em direção a mercados considerados mais seguros. Em sentido inverso, sendo o prejuízo em país desenvolvido, o aplicador busca os seus recursos aplicados nas carteiras de maior risco, portanto, nos mercados emergentes, para cobrir os eventuais prejuízos. Seja como for, numa crise como a atual há muito mais gente querendo vender do que comprar ações, o que gera a diretriz baixista do mercado.
No caso brasileiro temos um duplo problema, dado que as principais empresas, cujas ações compõem o mercado brasileiro, estão operacionalmente vinculadas à produção de commodities. A siderúrgica Vale do Rio Doce e a petrolífera Petrobrás, responsáveis por quase 50% da movimentação da Bovespa, ofertam produtos cuja demanda na rabeira da crise acabou por se fazer enfraquecida, o que serve para alimentar as especulações sobre os seus resultados operacionais futuros. Em favor de expectativas negativas, que se consolidem ou não, já terão provocado no presente os estragos que testemunhamos na queda do Ibovespa.
É assim que ficaremos, na situação que no jargão popular se expressa com “se ficar o bicho come, mas se correr o bicho também come”. Enquanto for esta a percepção, a Bolsa de Valores acaba por ser coisa para profissionais do mercado, e mesmo estes no momento vêm sem dúvida precisando de alguma assessoria de uma boa dose de sorte.
29 de março de 2009
Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.
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