Drucker e o Conceito de ‘Objetivos’ na TGA




O conceito de “Objetivos” na Administração está diretamente associado à importante mudança na evolução do capitalismo, marcada pela Crise de 1929, que acabou por influenciar os métodos de gestão não só em relação ao setor privado, mas também em relação ao setor público.
De modo geral, o capitalismo se desenvolveu a partir de uma situação de demanda crescente por mercadorias em contraposição a uma oferta então escassa das mesmas.
Iniciado a partir da atividade comercial consolidou-se através de uma Revolução Industrial, que se trata de uma revolução na área produtiva. E o que é a citada revolução se não o desafio de aumentar a capacidade de produzir da economia? Ou seja, no seu início o capitalismo se mostrava antes favorável ao produtor do que ao consumidor. Isto pode ser observado na teoria econômica, onde se tem a denominada teoria clássica associada ao liberalismo, apoiada na idéia de livre comércio, onde um de seus preceitos básicos se associa à Lei de Say, cujo enunciado explicava que a economia funcionava a partir do princípio de que a “oferta determinava a demanda”. Isto implica termos de análise de mercado dizer que o mercado é favorável ao ofertante.
O fato é que o capitalismo, surgido no século XVIII, não só haverá de suprir a demanda existente, como haverá de suplantá-la. E a Crise de 1929 pode, em termos, ser avaliada como o aspecto conjuntural que atua com sintoma claro de que a oferta de produtos passou a ser superior à demanda. Não por acaso é um momento de tantos estoques, isto está refletido na denominada revolução keynesiana, onde o economista inglês J.M.Keynes propõe um novo enunciado como condutor da economia, o “princípio da demanda efetiva”, que define que a é “a demanda que define a oferta”.
Em termos de mercado existe uma nova situação: este se torna claramente favorável ao consumidor demandante em contraposição ao produtor ofertante. Ora, o que tem isto em relação aos “objetivos”? A Administração surge a partir de ligação íntima com a Economia que a precedeu. É no escocês Adam Smith que F. Taylor vai buscar os fundamentos para as suas idéias de expansão da produtividade. O norte-americano, juntamente ao naturalizado francês H.Fayol, são os clássicos da TGA. O primeiro se voltou aos aspectos da linha de produção, enquanto o outro ao quadro administrativo propriamente dito.
Os fatos estão integrados ao contexto de mercado pró-ofertante e desenvolvem suas teorias tratando o objeto de estudo da ciência administrativa com se fosse um sistema fechado, ou seja, utilizando o termo da Administração, se centraram numa visão apenas das ‘variáveis controláveis’. Pode-se dizer que o olhar da Administração se voltou para as ‘variáveis incontroláveis’ no momento em que se passou a considerar o conceito que aqui motiva este texto, os objetivos, voltando ao aprofundamento do estudo do consumo e passando a observar a gestão sob a óptica de sistema aberto, portanto, não apenas a unidade empresarial, mas sua interação com o meio.
Na TGA esta passagem se faz com uma nova abordagem, a neoclássica, liderada por Peter F. Drucker, contexto em que se desenvolve o conceito de eficácia como acréscimo à idéia predominante de eficiência. Ou seja, pode-se associar o conceito de eficiência a Taylor, que buscava a melhor maneira de se produzir algo, e o de eficácia a Drucker, que busca, sim, a melhor maneira de produzir a partir daquilo que se ajusta ao consumo. Não são visões contraditórias, mas complementares, assim como o é gerir controlando variáveis controláveis e incontroláveis.
Não por acaso Drucker é o criador da APO (Administração por Objetivos), administração por objetivos. Isto num contexto onde, em última instância, o consumidor acabará por ser o objetivo essencial. Tanto é assim que aqui se inaugura o que futuramente seria a ‘mercadologia’ (estudo do mercado) que culminou na síntese teórica de P.Kotler, que organizou o método de Marketing já nos idos dos anos sessenta, claramente fundamentado nas necessidades do consumidor.
Cabe ainda destacar a contribuição da Escola das Relações Humanas, surgida em torno da crise econômica do final dos vinte e início dos anos trinta. Neste caso, ao voltar-se para o estudo do fator humano, por conta dos problemas gerados pelo desemprego e crise e evolução da organização sindical do trabalho, inaugurou-se a contribuição dos psicólogos e sociólogos na Administração, que até então era dominada por engenheiros. Até nisto fica claro o enfoque antes de sistema fechado para transição, para sistema aberto.
O importante é perceber que um sistema aberto implica variáveis controláveis e não controláveis, e que eficácia deve existir num contexto de eficiência, que o consumidor deve efetivamente ser considerado sem se descuidar dos aspectos do ofertante, e que o fator capital e o fator trabalho são os efetivos recursos produtivos, merecendo ambos o cuidado devido.
Ter objetivos é, portanto, organizar-se em torno do meio ambiente (mercado) criando afinidade que haverá de conquistar o consumidor, meio fundamental para se atingir o lucro.

07 de maio de 2009

Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.

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