A Crise nos EUA e Suas Consequências no Brasil




Tentar entender as conseqüências da crise internacional em torno do Brasil implica fazer uma dupla avaliação, onde se poderia dividir a questão em frente interna e frente externa, e buscar concluir a partir da interação de ambas as vertentes.
O ponto inicial é definir o foco emissor da crise, e neste caso se pode afirmar que este se deu na frente externa, ou seja, em algum sentido estamos importando compulsoriamente a crise atual. A onda deletéria fez estágio na economia norte- americana antes de se por em movimento pelas praias de todo mundo. A questão é que este foco é dinâmico e continua a irradiar, ou seja, não se trata de algo que surgiu e desapareceu, pelo contrário, não apenas se expandiu pelo mundo como se realimentou entre os muros dos EUA, de forma que se aprofundou em onda recessiva, provocando o esfriamento da citada economia.
Não se trata de uma economia qualquer, mas da maior do mundo, espécie de motor do planeta do capital globalizado, hoje sob o novo comando de Barack Obama, que encontra eco no eleitorado, onde 63% dele aprovam suas medidas. Dentre estas, a aprovação de um super-pacote de dinheiro público a ser colocado na economia, no valor de U$ 780 bilhões. Aprovado no Congresso, porém tem pela frente fantasmas barulhentos como os 2,2 trilhões de dólares em créditos podres que infestam seu sistema financeiro, uma perda de 3,6 milhões de postos de trabalho desde o início da recessão, em dezembro de 2007, o que se reflete no número recorde de pedidos de seguro- desemprego, em torno de 5 milhões neste março de 2009, acusando o maior nível de desemprego desde 1983, uma taxa de desocupação de 8,1%.
Trata-se um processo de empobrecimento que nos últimos 15 meses corroeu da população norte-americana algo em torno de US$ 16,5 trilhões da riqueza disponível entre as famílias, que num comparativo equivale a montante pouco superior ao que os EUA produzem em um ano, o que seria o equivalente a quase 13 PIBs do Brasil. O desastre poupou as grandes fortunas, como a do dono da Microsoft, Bill Gattes que perdeu aproximadamente US$ 12 bilhões (em torno de R$ 28 bilhões). Dentre os ricos encabeça a lista Sheldon Adelson, empresário do setor imobiliário e de cassinos, que viu pulverizar 93% do seu patrimônio, perdas de US$ 30 bilhões (cerca de R$ 70 bilhões), se computadas até o mês de novembro de 2008.
Grandes soluções, grandes problemas, assim parece a notícia que antes serviria para nutrir a tradição do primeiro de abril, o dia da mentira: o super-conglomerado General Motors, símbolo do capitalismo sobre quatro rodas, em risco de falência, mesmo depois de receber um socorro com recursos públicos na ordem de US$ 13,4 bilhões, que vem de um biênio de prejuízos, 2007 e 2008, respectivamente, US$ 38,7 bilhões e US$ 30,9 bilhões; o pior e o segundo pior prejuízo, desde sua fundação há 100 anos.
Eis a atual situação do motor econômico do planeta. Vai mal, precisa de enormes reparos, e enquanto o conserto não produz resultado o mundo se realimenta com esta crise. E em que pese nestas horas se querer não estar presente e participar de indesejado evento, o Brasil não conseguiu escapar deste grande encolhimento do mercado internacional, e neste sentido é que se pode analisar sua frente interna, contaminada a partir se sua inter-relação com as demais economias.
Por aqui a crise aportou no último trimestre de 2008; desde então, a partir de dados do CAGED, o mercado formal desde novembro último perdeu 797,5 mil empregos, para um total de 30 milhões de brasileiros com carteira assinada. Tais dados encontram eco em outros do IBGE que apontam que houve acréscimo de 20,6% no contingente de desempregados de dezembro a janeiro, com a taxa de desemprego saltando de 6,8% para 8,4% da população, de modo que a população desempregada passou de 1,6 para 1,9 milhões (em seis áreas metropolitanas pesquisadas).
A situação do emprego do trabalho ratifica dados do IBGE referentes à produção que informou que a economia brasileira teve, no quarto trimestre de 2008 em relação ao terceiro, uma queda no PIB de 3,6%, que se trata do maior recuo da série histórica iniciada em 1996, ou seja, em 12 anos, o que é parte decorrente do esfriamento da economia interna, em parte por conta do desaquecimento da economia global e sua influência sobre o saldo da Balança Comercial.
Contribuiu de modo direto em torno de tais indicadores a retração do crédito para o mercado interno brasileiro, que por seu lado decorreu da crise de confiança que se proliferou a partir de intensificação do fator aversão ao risco que se proliferou retendo, assim, recursos antes disponíveis para crédito, tornando os fornecedores de crédito mais exigentes em relação às condições de empréstimo para os tomadores, tais como a diminuição do prazo almejando reduzir risco. Outra decorrência foi um aumento da taxa de juros por conta da escassez inerente não à falta de recursos, mas ao aumento da aversão ao risco de emprestá-lo. Seja como for, inibiu um dos principais fatores que contribui para o recente crescimento econômico, a expansão do crédito.
Por fim, há que se avaliar que no mundo globalizado ligado pela rede mundial as informações têm um fluxo muito rápido, e a crise tende a se refletir cada vez com maior rapidez. Entretanto, cabe destacar o papel crescente da intervenção do gestor público, e a retomada da concepção da importância da atuação do Estado na economia. O fato é que se hoje não temos uma repetição de 1929 é porque houve uma profunda evolução teórica e prática na atuação da gestão pública, pois esta tem sido e haverá de ser o fator diferenciador na redução dos efeitos deletérios da atual crise, assim como será o possível catalisador que conduzirá a economia na direção de nova onda expansiva.

24 de março de 2009


Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.

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