Henri Fayol e o Mito da Matemática como Meio de Tomada de Decisão




No meio acadêmico, por vezes encontramos uma abordagem em relação à tomada de decisão que quer insistir na possibilidade da exatidão deste processo. Pior do que isso, segue uma espécie de condicionamento que fez do método matemático uma espécie de juiz, algo que possibilitasse dar uma objetividade tal à tomada de decisão que permitiria, em tese, praticamente eliminar o fator de subjetividade do tomador de decisão.
Contribui para esta visão a evolução da estatística que permite, via pesquisa de mercado, produzir a leitura de muitas diretrizes que a princípio pareceriam estar ocultas. Esquece-se que, neste caso, o que se obtêm são apenas dados que de pouco serviriam se não fossem analisados adequadamente pelo saber e conhecimento daquele que os avalia, ou seja, os dados não falam por si, mas efetivamente permitem assessorar de modo quantitativo a tomada de decisão; porém, somente a subjetividade do analista capacitado poderá dar valor qualitativo à decisão.
É importante não se tornar escravo do método, mas sim utilizá-lo por assessor. É essencial saber que o elemento decisivo trabalha, necessariamente, com a redução do risco e não com a eliminação integral do mesmo. Prometer ou acreditar em certezas é enganar ou enganar-se; a própria estatística, se observada, costuma alertar aos desatentos sobre a probabilidade de erro. Não se propõe evidentemente a desatenção ou o descaso, mas não se podem confundir certos cuidados tomados no momento de decidir com a eventual possibilidade de exatidão.
É sempre importante perceber que ao estarmos tomando uma decisão, esta ocorre no presente, e os seus resultados ocorreram no futuro; e embora isto pareça algo simples, o fato é que o conhecimento nos habilita a conhecer o passado, nos arma de boa técnica e teorias, o que nos permite fazer projeções e não previsões futurológicas. Somos técnicos, por vezes melhor ou pior preparados. Mais do que isso, há que se considerar a capacidade de subjetividade de cada individualidade; se existe o artista que atua na pintura, nas letras, na música, na escultura, ora, também existe este potencial quanto a certa capacidade natural de tomar decisão; é o que se chama de talento.
Fosse o processo decisório algo exato, dez dentre dez que tomassem uma decisão a tomariam da mesma forma; e isto não está ligado apenas a ser mais ou menos conservador ou arrojado, o que novamente são características típicas da subjetividade. Também não se pode falar em instinto, pois isto implicaria num automatismo que o ser humano não tem. Para o bem ou para mal, cada individualidade tem livre arbítrio, embora este esteja, evidentemente, susceptível às suas crenças, ao seu conhecimento, aos seus costumes, o que novamente nos faz trilhar o enfrentamento da falta de exatidão.
O fato é que onde existe como objeto de construção de conhecimento o fator humano, estaremos a lidar com a subjetividade expressa no arbítrio individual, que por seu lado, de modo sistêmico, acaba por constituir a ação em sociedade, no que tange as relações no plano cultural, social, político e econômico. A matemática, nesse sentido, pode contribuir como método para quantificar tendências e diretrizes, o que novamente não está ligado à possibilidade da certeza absoluta.
Tomar decisões presentes que envolvem o futuro significa conviver com expectativas e incertezas, que são potenciadas conforme o tamanho do prazo envolvido na questão, ou seja, uma decisão de curto prazo tem maior possibilidade de acerto do que a de longo prazo, o que não significa que o que foi previsto para o prazo mais próximo possa acabar não se confirmando, enquanto o mais distante acabe por se confirmar. Não se trata de exatidão, mas de uma boa dose de sorte aliada aos aspectos racionais que envolveram essa decisão. Ao elemento decisivo cabe aprender a conviver, inclusive, com os aspectos informais, que nem sempre podem ser quantificados, mas que contribuem na tomada de uma boa decisão.
Não é de hoje que esta discussão se processa. Já Henri Fayol, que divide com Taylor a paternidade da Administração, um engenheiro de formação, tinha como opinião a respeito da formação de gestores: “comete-se um grande erro quando se sacrifica, durante quatro ou cinco anos, a cultura geral necessária em benefício do excesso de matemática” e vai além, afirmando: “abusa-se da matemática na crença de que, quanto mais a dominamos, mais aptos estamos para gerir os negócios e de que seu estudo, mais do que qualquer outro, desenvolve e retifica a capacidade de julgar”, e finalizando: “os chefes de indústria e os engenheiros.... têm necessidade de saber falar e escrever.... a regra de três sempre bastou aos homens de negócio” .
Ou seja, reconhece o falar da capacidade empreendedora, da vontade, portanto da subjetividade no processo decisório. Não se trata, evidentemente, de se desprezar a matemática, muito benvinda como método que, via quantificação, permite efetivamente reduzir o risco na tomada de decisão. O que se propõe é tomar cuidado com certas ilusões de suficiência, onde se tem apenas o ponto de partida.

FONTE: FAYOL, H. , Administração Industrial e Geral, 10ª Ed: São Paulo. Atlas, 1994.

05 de abril de 2009


Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.

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