Taxa de Inadimplência: Beneficiando os Maus Pagadores




Um instrumento importante para a economia é a apuração da Taxa de Inadimplência, que a princípio se trata de um levantamento quantitativo no sentido de se medir, dentre o crédito concedido, o quanto esta não está sendo paga. Neste sentido tal informação permite, no plano macroeconômico, por vezes supor alterações na produção e na renda, por quanto do aumento da inadimplência. Entretanto, é sempre bom estar atento à questão de se ser bom ou mal pagador não envolve apenas a possibilidade de pagamento e de renda disponível para tanto, mas um aspecto na área psicológica, assim como cultural e social, e neste caso, antes de haver renda há que ter a intenção e vontade de pagar do devedor.
O que quero dizer é a avaliação puramente quantitativa deste índice e sua ligação às variáveis macroeconômicas. Depende de se consagrar a hipótese de que quem tem renda efetiva irá pagar. Mais do que isto, também se associa a aspectos sócio-culturais a educação financeira, ou seja, também a má administração dos recursos pode gerar a inadimplência, o que novamente desprega o fator inadimplência da questão renda, ou pelo menos interfere na sua ligação direta.
Mas então a quem serve a avaliação na área exclusivamente quantitativa? A resposta está no plano micro, pois evidentemente atua a favor daquele que oferece crédito à medida que permite avaliar o risco, e por que não dizer incorporá-lo ao preço do dinheiro a ser ofertado? E então, novamente retomando uma visão de amplitude macro, observa-se que de modo geral todos pagarão por aqueles que não pagam, ou seja, a responsabilidade individual acaba acobertada e pulverizada na sociedade como um todo. E neste sentido a Taxa de Inadimplência tem uso efetivo que antes beneficia quem empresta e quem não paga, em desfavor de quem paga em dia as suas contas.
O modo de corrigir esta questão é se aprofundar na questão da inadimplência, com uma atuação qualitativa, no sentido de quem paga e quem não paga. Neste sentido é que o Cadastro Positivo e individualizado beneficiaria o bom pagador e atuaria de forma a promover restrições ao mau pagador. Não se trata de perseguir alguém ou coisa parecida, mas adequar o custo à ação individual.
Neste sentido se pode acusar que isto seria algo preconceituoso, e então questiono, pois à medida que a Taxa Inadimplência é utilizada para ponderar o risco, o tal preconceito já tem preço e é pago por quem não cria razões para ele existir, enquanto quem o produz fica oculto em meio à massa, ou seja, possivelmente a Taxa de Inadimplência do mau pagador é superior a esta taxa geral, ou seja, ele de fato acaba se beneficiando com uma taxa mais baixa por conta daqueles que pagam em dia. Em sentido inverso ele se beneficia ao invés de sofrer restrição.
Ainda quanto à questão do preconceito, haverá aquele que defenda que a medida seria restritiva aos mais pobres e deixaria de fora os mais ricos, a que então argumento: preconceito é supor que o pobre seja pior pagador do que o rico; o que ocorre é que este efetivamente por ter renda menor, a princípio teria mais probabilidade de não pagar do que quem tem renda maior. Isto se novamente apenas se avaliasse a questão de modo quantitativo, entretanto, basta colocar um aspecto qualitativo e cultural: o pobre sabe que seu principal patrimônio é o nome. O fato é que entre ricos e pobres, existem bons e maus pagadores, o por ser assim o procedimento adequado deveria ser premiado, enquanto o inadequado restrito.Crédito mais barato para quem paga em dia suas contas, crédito mais caro, ou sem crédito para quem não paga, pois a situação inversa, conforme observamos acima, só beneficia aquele que oferta o crédito e o mau pagador.
A questão da inadimplência deveria ser melhor estudada, e até aprofundada. Até mesmo o mau pagador gosta de lidar com bom pagador. Se existe o problema social, não se podem desprezar os aspectos psico-sócio-culturais. No mais, a questão social não será resolvida ocultando os que não pagam e transferindo a conta para os que pagam.
Entretanto, pelo momento, segundo dados do SERASA Experian, o que se tem é que a inadimplência aumentou em 8,6% nos dois primeiros meses de 2009. Porém, se considerarmos fevereiro em relação a janeiro, apenas haverá redução de 8,9%, embora se compararmos com o mesmo mês do ano de 2008 tenhamos acréscimo de 4,5%, tendo por fato já identificado o desaquecimento econômico e o aumento do desemprego no último trimestre e seus reflexos, de onde se pode especular a ligação entre as duas situações.
Do total da inadimplência nos dois primeiros meses, 43,4% é com os bancos, 37% com cartões de crédito e financeiras, 17,7% com cheques devolvidos e 1,9% de títulos protestados. Respectivamente, em média, R$ 1.371,13, R$ 357,07, R$ 823,15 e R$1050,90. São valores médios que não fazem acreditar que o mau pagador esteja associado apenas à sua renda, ou seja, em havendo tal valor concedido de crédito é de se supor que houve triagem financeira. Não me parece que uma pessoa efetivamente de poucos recursos conseguisse fazer tamanha dívida junto ao setor financeiro, que de bobo não tem nada.
Enfim, por um cadastro individual, para beneficiar quem tem bons hábitos e controle financeiro e para induzir a adquirir o costume de pagar em dia, e de autocontrole para os maus pagadores.

27 de março de 2009

Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.

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